Quando li pela primeira vez este texto, eu era uma adolescente curiosa que
descobria a sabedoria da Bíblia. Confesso que achei muito estranho e totalmente
pessimista. O fato era que eu nunca tinha ido a velório nem se quer enterro.
Nunca havia perdido alguém querido. Em minha casa, apesar de meu pai e minha
mãe terem perdido seus pais muito novo e um deles de forma muito trágica (assassinato), simplesmente não se
falava deste assunto. Para se ter noção eu fui saber os nomes de meus avós
falecidos, e que eu nunca conhecera, depois de adulta, por insistência de um
senhor que não acreditava que eu não conhecia de verdade o npme deles. Enfim meu meu mundo era uma
perfeita bolha cor de rosa.
Na minha total
falta de experiência, li um pequeno livro, escrito para o Dia de Finados, onde
uma frase me acompanhou pelo resto de minha vida e me ajudou no dia em que tive
que ir a enterros e enfrentar o luto. Aquele livro dizia: “A morte nunca vem de
Deus. As pessoas se consolam em funerais dizendo: ‘Foi a vontade de Deus’ ‘Ele
quis assim’. Não! Essa é a maior mentira que o inimigo pôde contar! Como um
Deus, que é em essência amor e vida pode querer a morte? A morte é consequencia
do pecado, do primeiro pecado cometido nesta terra e será eliminada quando
Jesus voltar”.
Sempre guardei
no meu coração uma certa ansiedade para saber como seria o dia que a bolha
estourasse. Toda vez que eu pensava eu já enchia os olhos de lágrimas e pensava
em outras coisas. Mas a preocupação estava ali guardada, silente. De fato, o
dia chegou, e eu perdi minha única avó, com seu 84 anos. Não preciso dizer que aquele
dia foi horrível. Eu nunca havia respirado tanta tristeza, desespero, lamentação junto.
Simplesmente era insuportável ficar naquela casa com tanta gente chorando, onde
simplesmente não havia mais esperança. No meu nervosismo e turbilhões de
emoções tomei duas decisões, que não foram precipitadas e que demonstram como
eu pretendo encarar a morte e o luto. Disse a minha mãe: “Se tiver que me
enterrar primeiro mãe, quero que demore apenas o suficiente para que cheguem
aqueles que quiserem despedir-se. Faça um culto rápido e me enterre! Não quero
choro prolongado, nem lamentação, nem nada! Me enterra logo!”. A outra escolha
que fiz considerei na ocasião corajosa, mas que também demonstra o que penso
sobre a morte. Enquanto todos se reuniam para chorar, escolhi acompanhar meu
tio ao cemitério, onde prepararíamos o local onde minha avó seria enterrada, pois
era se desejo ser colocada no mesmo local que seu filho Mário. Eu também não o
conheci. Enquanto reuníamos seus restos mortais, com peças incrivelmente conservadas,
eu olhava para o céu e só pensava na volta de Jesus, em sua promessa de trazer
à vida os mortos em Cristo. Só conseguia imaginar túmulos se abrindo, anjos
voando de um lado para o outro reunindo famílias separadas por tanto tempo por
este vilão: a morte. Nesta hora eu não quis saber de religião A ou B, no céu
não haverá denominações (Ufa! Ainda bem!) eu só pensei em Jesus como justo juíz. Eu precisava de esperança.
Separar-se de alguém já é dolorido demais, mas confiar na promessa de poder
encontrá-la novamente é reconfortante, é uma esperança que movimenta um dia
após o outro. Eu pensava em meu tio, na dor que minha vó enfrentou para
enterre-lo, no sofrimento que foi para a viúva cuidar dos filhos sozinha, mas
eu tinha paz pois lembrava-me das palavras de Jesus: “Lázaro dorme, e
ressuscitará no último dia”. Não me lembro se voltei ao cemitério com minha família
para enterrar minha vó. Apenas me recordo da paz que senti em imaginar o
cumprimento da promessa naquele cenário tão carregado de tristeza. Ainda havia
esperança.
O coração dos sábios está na casa do luto, mas
o coração dos tolos na casa da alegria.
Eclesiastes 7:4
Eclesiastes 7:4
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