terça-feira, 29 de março de 2011

O Gênio e o Pescador





Havia um pescador que todas as manhãs lançava sua rede à algum mar. Certa vez atirou sua rede por três vezes. Primeiro encontrou um burro morto, três moringas quebradas e várias coisas inúteis. Na quarta vez que lançou a rede percebeu quão pesada ela estava. Esperava retirá-la cheia de peixe. No entanto o que encontrou foi apenas um jarro de cobre amarelo, marcado com o selo do rei Salomão. O pescador abriu o jarro e então saiu uma espessa fumaça. Ele então pensou que se não teve lucro com a pescaria, poderia ao menos vender o jarro a algum comerciante. A fumaça entretanto subia ao céu e ao se condensar tomou a forma de um gênio. Para os muçulmanos, os gênios são seres gigantescos, criados antes de Adão e inferiores aos homens. Eles são sereis invisíveis, intocavéis e que habitam todo o espaço.
O gênio disse: "Louvado seja Deus e seu apóstolo Salomão!!!". O pescador lhe pergunta por que mencionou Salomão se ele morreu a tanto tempo. Disse-lhe ainda o pescador: "O apóstolo do Senhor agora é Maomé! E a propósito, por que estavas preso neste jarro?". O gênio conta que no passado havia se rebelado contra Salomão e por isso foi trancado dentro do jarro, que depois de selado foi lançado ao mar.
Havia se passado 400 anos e durante estes tempo o gênio fez inúmeras promessas à aquele que o libertasse. Prometeu dar todos o ouro do mundo, ensinar o canto dos pássaros e etc...Como nenhuma de suas promessas foi ouvida, prometeu matar o seu libertador. Tendo dito isso, virou-se o gênio para o pescador e ameaçou: "Prepare-se para morrer". Sem ao menos perceber, seu impulso de ira tornou o gênio, estranhamente humano e diz-se que até amável.
O pescador, aterrorizado, fingiu não acreditar na história e disse ao gênio: "Essa sua história não é verdade. Como é que um ser, cuja cabeça toca o seu e os pés tocam a terra pode caber neste minúsculo recipiente?".
O gênio, sentindo-se desafiado, respondeu-lhe: "Vou lhe mostrar, ó homem de pouca fé!". Tendo dito isso encolheu-se de novo e entrou no jarro..
O pescador então, fecha o jarro, ameaça o gênio e saí dando boas risadas,desta sua estranha, mas engraçada pescaria.



Fonte: BORGES, Jorge Luís. Sete noites. São Paulo: Max Limonad, 1983 (adaptado).