terça-feira, 26 de junho de 2007

A lágrima e a palavra




Chegou o dia de transformar lágrimas em palavras. Talvez o exercício de organizar idéias cause menos dor. Lágrimas secam.....ninguém as vê. Não conseguem vê-las. Palavras, podem ser lidas.... e também podem não ser vistas, podem ser deletadas, apagadas da memória do computador, mas não do coração daqueles que a receberam. Mas palavras são ditas, escritas, falseadas, carregadas de emoção, carregadas de passado e de futuro, tão pouco trazem do presente – se que este ainda exista.
Onde vamos parar? O mundo que não vê, pessoas que não entendem? Que mundo é este que vivemos?! O dia chegou, em que as palavras tomaram as rédeas e proclamaram sua independência. Eis que assumem hoje a função de dizer aquilo que carrego na alma. Pobre ilusão. Palavras são meros símbolos imperfeitos pelos quais julgamos ser possível nos expressar, tão complicadas se fazem, que quanto mais as escolhemos, mais elas nos embaraçam. As palavras expressam tão pouco. Acho que elas mais confundem. As lágrima sim, estas sabem falar, sabem ler os mundos, sabem entender o nosso ser ainda que a nossa tão débil mente seja incapaz de codificar e decodificar aquilo que sentimos, aquilo que carregamos e aquilo que nos inquieta e roubam a paz.
Doces lágrimas, amargas gotas, perdoadoras águas quem dera a palavra pudesse expressá-la. Que tal se por um instante trocássemos de posição e invertêssemos a ordem das coisas. Lágrimas, tu serás a linguagem verbal dos homens e tu palavra exercerá a função das lágrimas. Mas tal como um rio sereno em meio a bela paisagem, chamativo, mas profundo e traiçoeiro, os homens também vertem falsidades, hipocrisias são capazes de mascararem e representarem aquilo que não sentem. Mesmo as mais profundas lágrimas tal como as palavras, por vezes traem nossos sentimentos. Tantas vezes estamos tão confiantes de nós mesmos, do que pensamos, cremos e amamos. E de repente, lá estão elas novamente. Se subjugamos a palavras, relegando-lhes um plano secundária, as lágrimas vem, inundam aliás, um mundo que carregamos nas costas, escondemos nos recônditos da mente para que nem nós mesmo dele tenhamos consciências e de repente, as lágrimas simplesmente nos traem. Lágrimas e palavras, quem pode-lhes confiar algo. Homens, quem sois vós a ponto de meras (meras?!) palavras, códigos e gotas de sentimentos os vençam. Sois capazes de vencer exércitos, eleições, grandes homens, crises e todo um universo, mas não sois capazes de vencer a si próprio.
Lágrimas maculadas! Ó homens onde aprenderam isso? Será que não poderias ter deixado de macular pelo menos as lágrimas? Por que fazem questão de confundir as situações? Vejo que minha estratégia de inverter posições falharia, pois lágrimas e palavras se por um lado relevam aquilo que por vezes tentamos esconder aos mortais, elas também protagonizam peças teatrais aos olhos deslumbrados da pobre platéia. Vai chegar o dia em que as águas vão falar.
Entretanto há muitos que não permitiram fazer parte deste jogo emulativo. Não permitiram que o ser fosse contaminado a ponto de fazerem de suas lágrimas um mecanismo de poder. Para estes as lágrimas oram, falam aquilo que suas almas cansadas e fatigadas já não conseguem mais transformar em signo, fizeram das águas sua linguagem. Pobre humanidade mal consegue ler o que escrevem os homens, códigos e sinais escritos, são tão analfabetos!!! Não saberão ler as palavras do ser !!!! E assim o mundo vai se constituindo de analfabetos de todos os lados, mas os piores iletrados são aqueles que não sabem sentir o outro, lê-lo nas linhas e nas entrelinhas, nas lágrimas e nos sorrisos, nos entre sorrisos e no encher os olhos. Até isso precisamos guardar, enquanto gostaríamos de falar a todos: “Olhem aqui! Não percebem vocês que sofro?!” E então resolvem não mais chorar. Permitem que sólidas pedras se formem no coração. Pedras. Duras, leves e pesadas, não importa! Elas não deixam de ser pedras.... Há quem goste de colecioná-las. Quantas pedras em palavras, quantas palavras em forma de pedra. Preferimos brincar com pedras, atirá-las contra as pessoas mas nunca dissolvê-las. Sim as pedras das alma são solúveis. Certo é que demora-se por vezes encontrar os solventes, mas para cada pedra há um determinado solvente, de produção humana!!!! As pedras precisam ser decompostas, elas foram feitas de lágrimas!!! Da lágrima vieram para as lágrimas voltaram. Não há porque contrariar a ordem natural das coisas!!! Este dia ainda há de chegar, em que os seres humanos desenvolverão os solventes para tantas pedras que os consomem ,de tantas pedras que o cercam. Lágrimas, palavras e pedras... e lágrimas. O dia em que pedras e lágrimas falarão ainda vai chegar.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

O Tempo e o Templo








Há muito que o tempo deixou de ser apenas uma medida cronológica. Vários sentidos foi lhe atribuído, mas entre eles um se destaca popularmente. O tempo tornou-se o melhor remédio para os males da alma. De um lado a outro as pessoas repetem com a convicção da experiência e da eficácia: O tempo é o melhor remédio. Dura recomendação para tantos que almejam uma resposta imediata, uma cura milagrosa e momentânea. Tão difícil é conviver com a dor e com o tempo. É o tempo que sofremos que nos acorrenta, é o tempo do futuro que nos amedronta, o passado e o futuro encurralam o nosso presente, de forma que muitas vezes não conseguimos mais distinguir entre aquilo que passou e aquilo que se passa, pois o tempo com suas emoções, dores, aflições e mágoas cegam o nosso olhar. Ah... o tempo.... Ele pode de transformar-se em templo, em santuário nos quais reverenciamos e adoramos os nossos deuses e cabe-nos refletir sobre a adoração que dedicamos no tempo que nos é emprestado. Falando como fazemos até parece que o tempo tem algum poder, mas que fique muito claro que ele em si não tem poder algum, pois há aqueles cuja distância linear do tempo não consegue dissolver os seus conflitos, dores e feridas. Parece que quanto mais os dias correm, que os anos avançam e que as décadas se acumulem sobre a experiência, mais tristes lembranças se avolumam. E aqui vemos a diferença, o tempo não tem poder, mas Aquele que o criou o tem. Ele é a diferença no tempo, e no templo do tempo. Ele é a nossa qualidade de tempo, com Ele tudo se transforma inclusive o tempo do templo. Aquele inspirou Salomão a dizer as sábias palavras: “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Ecles. 3:1), também disse “sem mim nada podeis fazer”. Restauração, cura, renovação, alegria e perdão pouco podem ter que ver com uma distância maior ou menor das situações que nos roubaram a felicidade se Cristo não atravessar conosco “o vale da sombra e da morte”. Mesmo o tempo tão celebrado pela psicologia popular, não passa de uma criação divina. Se desejamos ser transformados e por vezes arrazoamos que precisamos de um tempo maior, é preciso não esquecer que isso apenas fará sentido se Cristo estiver preenchendo os espaços não apenas de uma medida temporal, mas principalmente os lugares de nosso ser, nossa mente e coração. Então o tempo será um excelente templo, pois enquanto aguardamos as respostas para nossas frustrações estaremos adorando o Criador e o Redentor, que antes de preocupar-se com os dias, anos e estações desejou criar um homem à sua imagem e semelhança e quando este desviou-se não mediu esforços para pagar o resgate. Se precisas de tempo, lembre-se que antes necessita dAquele que o criou.