sábado, 18 de agosto de 2007

MELODIA


MELODIA

O que são as melodias?

Melodias são dias cujas notas musicais nos chegam aos ouvidos com a suavidade do mel.
Dias que se perderam no tempo.
Dias que foram apagados, esquecidos e exilados
Dias que o presente afugenta
Dias insistentes que rompem barreiras
Dias que nos chegam como favo de mel
Por isso o compositor chamou de melodias....
Sonhos....
Parecem nuvens no céu límpido e ensolarado que o vento faz correr de um lado a outro....
Mas sonhos são muito mais que isso...
Sonhos....
é quase a respiração de uma alma cansada...
Mas como definir um sonho?
De tanto pensar conclui que sonhos não se definem simplesmente se vive à procura de sua realização.
Sonhos...
são nossa motivação....
Sonhos...
Difíceis de definir, pois se misturam de tal forma à pessoa que separa-los é quase impossível.
Sonhos....
o doce perfume que nossa alma exala....

terça-feira, 26 de junho de 2007

A lágrima e a palavra




Chegou o dia de transformar lágrimas em palavras. Talvez o exercício de organizar idéias cause menos dor. Lágrimas secam.....ninguém as vê. Não conseguem vê-las. Palavras, podem ser lidas.... e também podem não ser vistas, podem ser deletadas, apagadas da memória do computador, mas não do coração daqueles que a receberam. Mas palavras são ditas, escritas, falseadas, carregadas de emoção, carregadas de passado e de futuro, tão pouco trazem do presente – se que este ainda exista.
Onde vamos parar? O mundo que não vê, pessoas que não entendem? Que mundo é este que vivemos?! O dia chegou, em que as palavras tomaram as rédeas e proclamaram sua independência. Eis que assumem hoje a função de dizer aquilo que carrego na alma. Pobre ilusão. Palavras são meros símbolos imperfeitos pelos quais julgamos ser possível nos expressar, tão complicadas se fazem, que quanto mais as escolhemos, mais elas nos embaraçam. As palavras expressam tão pouco. Acho que elas mais confundem. As lágrima sim, estas sabem falar, sabem ler os mundos, sabem entender o nosso ser ainda que a nossa tão débil mente seja incapaz de codificar e decodificar aquilo que sentimos, aquilo que carregamos e aquilo que nos inquieta e roubam a paz.
Doces lágrimas, amargas gotas, perdoadoras águas quem dera a palavra pudesse expressá-la. Que tal se por um instante trocássemos de posição e invertêssemos a ordem das coisas. Lágrimas, tu serás a linguagem verbal dos homens e tu palavra exercerá a função das lágrimas. Mas tal como um rio sereno em meio a bela paisagem, chamativo, mas profundo e traiçoeiro, os homens também vertem falsidades, hipocrisias são capazes de mascararem e representarem aquilo que não sentem. Mesmo as mais profundas lágrimas tal como as palavras, por vezes traem nossos sentimentos. Tantas vezes estamos tão confiantes de nós mesmos, do que pensamos, cremos e amamos. E de repente, lá estão elas novamente. Se subjugamos a palavras, relegando-lhes um plano secundária, as lágrimas vem, inundam aliás, um mundo que carregamos nas costas, escondemos nos recônditos da mente para que nem nós mesmo dele tenhamos consciências e de repente, as lágrimas simplesmente nos traem. Lágrimas e palavras, quem pode-lhes confiar algo. Homens, quem sois vós a ponto de meras (meras?!) palavras, códigos e gotas de sentimentos os vençam. Sois capazes de vencer exércitos, eleições, grandes homens, crises e todo um universo, mas não sois capazes de vencer a si próprio.
Lágrimas maculadas! Ó homens onde aprenderam isso? Será que não poderias ter deixado de macular pelo menos as lágrimas? Por que fazem questão de confundir as situações? Vejo que minha estratégia de inverter posições falharia, pois lágrimas e palavras se por um lado relevam aquilo que por vezes tentamos esconder aos mortais, elas também protagonizam peças teatrais aos olhos deslumbrados da pobre platéia. Vai chegar o dia em que as águas vão falar.
Entretanto há muitos que não permitiram fazer parte deste jogo emulativo. Não permitiram que o ser fosse contaminado a ponto de fazerem de suas lágrimas um mecanismo de poder. Para estes as lágrimas oram, falam aquilo que suas almas cansadas e fatigadas já não conseguem mais transformar em signo, fizeram das águas sua linguagem. Pobre humanidade mal consegue ler o que escrevem os homens, códigos e sinais escritos, são tão analfabetos!!! Não saberão ler as palavras do ser !!!! E assim o mundo vai se constituindo de analfabetos de todos os lados, mas os piores iletrados são aqueles que não sabem sentir o outro, lê-lo nas linhas e nas entrelinhas, nas lágrimas e nos sorrisos, nos entre sorrisos e no encher os olhos. Até isso precisamos guardar, enquanto gostaríamos de falar a todos: “Olhem aqui! Não percebem vocês que sofro?!” E então resolvem não mais chorar. Permitem que sólidas pedras se formem no coração. Pedras. Duras, leves e pesadas, não importa! Elas não deixam de ser pedras.... Há quem goste de colecioná-las. Quantas pedras em palavras, quantas palavras em forma de pedra. Preferimos brincar com pedras, atirá-las contra as pessoas mas nunca dissolvê-las. Sim as pedras das alma são solúveis. Certo é que demora-se por vezes encontrar os solventes, mas para cada pedra há um determinado solvente, de produção humana!!!! As pedras precisam ser decompostas, elas foram feitas de lágrimas!!! Da lágrima vieram para as lágrimas voltaram. Não há porque contrariar a ordem natural das coisas!!! Este dia ainda há de chegar, em que os seres humanos desenvolverão os solventes para tantas pedras que os consomem ,de tantas pedras que o cercam. Lágrimas, palavras e pedras... e lágrimas. O dia em que pedras e lágrimas falarão ainda vai chegar.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

O Tempo e o Templo








Há muito que o tempo deixou de ser apenas uma medida cronológica. Vários sentidos foi lhe atribuído, mas entre eles um se destaca popularmente. O tempo tornou-se o melhor remédio para os males da alma. De um lado a outro as pessoas repetem com a convicção da experiência e da eficácia: O tempo é o melhor remédio. Dura recomendação para tantos que almejam uma resposta imediata, uma cura milagrosa e momentânea. Tão difícil é conviver com a dor e com o tempo. É o tempo que sofremos que nos acorrenta, é o tempo do futuro que nos amedronta, o passado e o futuro encurralam o nosso presente, de forma que muitas vezes não conseguimos mais distinguir entre aquilo que passou e aquilo que se passa, pois o tempo com suas emoções, dores, aflições e mágoas cegam o nosso olhar. Ah... o tempo.... Ele pode de transformar-se em templo, em santuário nos quais reverenciamos e adoramos os nossos deuses e cabe-nos refletir sobre a adoração que dedicamos no tempo que nos é emprestado. Falando como fazemos até parece que o tempo tem algum poder, mas que fique muito claro que ele em si não tem poder algum, pois há aqueles cuja distância linear do tempo não consegue dissolver os seus conflitos, dores e feridas. Parece que quanto mais os dias correm, que os anos avançam e que as décadas se acumulem sobre a experiência, mais tristes lembranças se avolumam. E aqui vemos a diferença, o tempo não tem poder, mas Aquele que o criou o tem. Ele é a diferença no tempo, e no templo do tempo. Ele é a nossa qualidade de tempo, com Ele tudo se transforma inclusive o tempo do templo. Aquele inspirou Salomão a dizer as sábias palavras: “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Ecles. 3:1), também disse “sem mim nada podeis fazer”. Restauração, cura, renovação, alegria e perdão pouco podem ter que ver com uma distância maior ou menor das situações que nos roubaram a felicidade se Cristo não atravessar conosco “o vale da sombra e da morte”. Mesmo o tempo tão celebrado pela psicologia popular, não passa de uma criação divina. Se desejamos ser transformados e por vezes arrazoamos que precisamos de um tempo maior, é preciso não esquecer que isso apenas fará sentido se Cristo estiver preenchendo os espaços não apenas de uma medida temporal, mas principalmente os lugares de nosso ser, nossa mente e coração. Então o tempo será um excelente templo, pois enquanto aguardamos as respostas para nossas frustrações estaremos adorando o Criador e o Redentor, que antes de preocupar-se com os dias, anos e estações desejou criar um homem à sua imagem e semelhança e quando este desviou-se não mediu esforços para pagar o resgate. Se precisas de tempo, lembre-se que antes necessita dAquele que o criou.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

O ENIGMA DE SO-AIR



So-Air é o nome de uma cidade que no passado abrigara uma sociedade altamente religiosa. As escavações arqueológicas mais recentes têm revelado que esta cidade situava-se bem próximo ao deserto Saara, em uma região muito árida e seca. Os moradores daquela pequena cidade eram politeístas e por muito tempo entraram em comum acordo de prestarem culto somente a dois deuses, Raodrep e Receuqse, os quais na opinião daquela população, era os que melhor atendia as necessidades de So-Air. Tabuletas de argila recentemente encontradas no Cairo trouxeram, no entanto, maiores informações, sobre este povo até então não conhecido. Depois de um árduo trabalho de ordenação das tabuletas, arqueólogos e historiadores finalmente chegaram a um acordo sobre as origens e desenvolvimento desta sociedade. Eis então, que passo a contar-lhe os principais eventos ali encontrados.
Depois de séculos de adoração a Raodrep e Receuqse, eis que se verificou que alguns dos moradores, influenciados por um andarilho que ali passara, resolveram conhecer mais sobre o deus Azerud. A curiosidade logo se transformou em adoração. Como ali não havia templos em honra de Azerud, adoradores zelosos seus, trataram logo de construí-los por toda So-Air. A princípio, os mais fervorosos adoradores de Raodrep e Receuqse procuraram convencer o outro grupo de adoradores que surgia, da loucura que estavam cometendo. Todavia, tão logo a discussão cessara e aqueles já estavam também nos átrios de Azerud. Com isso, os templos de Raodrep e Receuqse esvaziaram-se progressivamente até serem transformados em santuários de louvor a Azerud.
Os moradores de So-Air desejavam justiça imediata e punição a despeito de problemas como furto, desonestidades e ingratidão, que há algum tempo rondavam aquela pacata cidade. Rogaram a Raodrep e Receuqse por soluções imediatas, mas como a resposta não parecia vir tal qual aquela comunidade desejava, acharam por bem procurarem um deus tão disposto com Azerud. Em tudo este deus os ajudara. Mas tão logo se viu em posição majoritário começou a impor suas condições. Como os moradores de So-Air não a acharam tão pesada, aceitaram de bom grado. Não obstante, viram na prática quais difíceis era executar tal pedido. Foram então reclamar a Azerud, e este entendendo a frágil situação em que se encontravam aqueles pobres humanos, recomendou-lhes dedicar mais tempo a leitura de seu livro sagrado, a oração e ao serviço santo do templo. Esta prática tornou mais fácil cumprir o reclame do novo deus. Azerud decretara que de sua chegada em diante às pessoas deveriam abolir do vocabulário local a palavra Oadrep, e qualquer palavra sinônima ou correlata. Aqueles que não o fizessem dentro de um determinado período incorreria na terrível maldição de Azerud.
O povo constantemente oferecia sacrifícios de louvor, adoração e agradecimento a Azerud, mas a maioria o fazia para obter seus favores. Havia determinados sacrifícios eram estabelecidos passo a passo por Azerud e seus sacerdotes constituídos. O mais curioso encontrado previa que pelo menos uma vez por mês cada adorador deveria abandonar suas casa e passar todo o dia em algum santuário, montanha ou deserto em absoluto silêncio meditando sobre a vida e conduta de um seguidor de Azerud. Aqueles que por ventura não soubesse ler deveria ficar apenas de olhos fechados recordando-se dos ensinamentos aprendidos em cada culto, Azerud providenciara uma forma de falar com estas pessoas. Isso sempre isoladamente, nenhum adorador deveria comunicar-se de nenhuma forma com outro adorar. Era uma espécie de pacto de silêncio. Terminado o dia, todos deveriam voltar para suas casas e permanecer em silêncio por pelos menos dois dias. Se conseguissem ficar mais dias sem conversar, o pedido feito teria mais probabilidade de ser atendido. Logo é de supor que uma cidade tão falante, como descrevem outros povos, transformou-se em uma cidade de poucas palavras.
Este ritmo de adoração transformou todo o calendário de So-Air e também as relações sócio-econômicas e especialmente o relacionamento dos moradores com seus familiares e amigos. As visitas às casas amigas diminuíram, as ruas tornaram-se desertas, as praças eram habitadas apenas por pássaros. Era muito raro encontrar um morador que tivesse apenas passeando. Se encontrássemos esta pessoa poderíamos saber que ela estava dirigindo-se para o templo de Azerud.
Raodrep e Receuqse diante de tantas transformações resolveram tomar sérias providências. Elaboram então um plano. A estratégia consistia em enviar mensageiros a So-Air com a missão de entregar a cada morador uma pequena caixa de madeira coberta por pele de cordeiro. Então deveria ser dada a instrução que tal caixinha não deveria jamais ser aberta sozinha, pois do contrário não teria qualquer efeito. Seria como uma caixinha qualquer. Todavia se fosse aberta de dois em dois ou em grupo, ai sim eles iriam saber que não era uma simples caixa. Distribuídas todas as caixas, os mensageiros voltaram para o santuário de Raodrep e Receuqse.
Os moradores de So-Air ficaram muito curiosos com a estranha caixinha. Como estavam acostumados a fazer tudo sempre sozinhos, abriu cada um a sua caixinha. Que decepção, não acontecera nada! Resolveram então seguir as orientações daqueles mensageiros. Quando então abriram a caixa em conjunto verificaram que uma voz muito melodiosa de uma quase extinta língua, o Senevigrof, pronunciava a desconhecida palavra Rama-Arbmel. Ninguém por ali e pela redondeza ouvira falar esta palavra, pois o Senevigrof, há muito tempo deixara de ser utilizado pelos moradores e vizinhos de So-Air. Em verdade, esta era a língua materna dos ancestrais daquela comunidade. A solução era então se reunirem sempre para decifrar o enigma de So-Air.
Os dias se passavam e nenhuma solução se apresentava e o povo já não agüentava mais ouvir esta palavra e não saber o significado. O dirigente daquela sociedade achou por bem propor uma reunião com os principais chefes da cidade, durante todo o dia, desde o nascer do sol até o seu ocaso para decifrar aquele enigma. Azerud não gostara da agitação que tal enigma provocara na cidade e permitiu então que tal assembléia fosse realizada.
Depois de um árduo dia de conversas, discussões e enfindáveis debates eis que chegaram a uma resposta. Todavia deparam-se com um problema quase irreversível, a resposta enquadrava-se no decreto pronunciado por Azerud e no pacto que aquela cidade fizera com o deus. Ninguém se propunha a revela-la ao povo, pois não queria incorrer na maldição de Azerud. Por horas o impasse perpetuava-se, a população toda reunida no pátio do prédio, clamava por resposta, pois afinal passara todo aquele dia em jejum e oração.
Como ninguém se arriscava, Megarok e Arom (sua esposa), a despeito do alto cargo e do prestígio que desfrutavam na hierarquia religiosa de Azerud – era ele o fiel e sacerdote primeiro, logo abaixo do deus a quem servia - pronunciou a solução do enigma de So-Air:
“Adoradores de Azerud, a voz que todos vós ouvistes da misteriosa caixinha é uma mensagem enviada por Raodrep e Receuqse...”
Nesta hora houve surpresa entre todos, alguns mais novos que nunca haviam ouvidos sobre estes dois deuses, perguntavam de que Megarok estava falando. O sacerdote então continuou:
“A palavra traduzida para nosso idioma significa Amar-lembrar e a clara mensagem é: Lembrem-se de se amar tal qual os seus ancestrais amavam e foram ensinados a amar”
Grande murmuração e surpresa verificaram-se entre os moradores de So-Air. Maior espanto sobreveio no momento em que olharam para Megarok e viram a maldição de Azerud cumprir-se. Megarok repentinamente tornara-se mais jovem, as rugas e o cenho franzido tal característico do sacerdote desapareceu, e então o povo pode ver qual novo e bonito era Megarok, e como a adoração a Azerud o transformara. Eles nunca haviam visto aquele fiel discípulo sorrir ou pular e brincar e de repente Azerud gritava em alto e bom som: Amar-lembrar. E abraçava e beijava sua esposa, a qual também gritava: Amar-lembrar.
Arom , desde muito tempo, sofria de uma terrível doença, que promessa ou sacrifício a Azerud conseguira cura-la. Ao que tudo indica, outrossim, todas as peregrinações e dedicação ao serviço santo de Azerud contribuíram para piorar o seu mal. Ela tornara-se cada vez mais corcunda a ponto de nos últimos tempos não conseguir olhar nos olhos de seu esposo, familiares e amigos, pois o simples movimento de levantar o pescoço causava-lhe uma insuportável dor. E agora estava curada. Podia sem dor apreciar a linda face de Megarok e os seus brilhantes olhos cor de mel, quase esquecera tão exuberante escultura humana.
Como uma reação em cadeia, o povo e toda a assembléia pronunciavam a não mais misteriosa palavra, mas a curadora palavra e sucessivamente diversos milagres efetuavam-se.
No dia seguinte, os moradores de So-Air mais uma vez reuniram-se, agora para destruir os templos de Azerud e incinerar todos os objetos utilizados na adoração daquele deus. A tarefa seguinte foi construir, mais que depressa, pelo menos um templo a Raodrep e Receuqse e invoca-los, tal qual seus pais faziam no passado.
Muitas decisões e transformações foram realizadas ali, naquela distante cidade. A primeira delas efetuada por Raodrep e Receuqse foi colocar Megarok como dirigente geral da cidade de So-Air. Em seguida mudar o nome do antigo sacerdote de Azerud para Koragem, e sua esposa Arom para Amor. A fama dos moradores de So-Air entre seus vizinhos era a pior que poderia supor. Assim para melhorar a imagem destes, decidiram que a cidade passaria a chamar-se daquele dia em diante sor- ria. Mas a medida mais brusca que poderia se efetuar, ainda estava por vir. O língua oficial de Sor-ria passaria a ser o Senevigrof.
Foi muito curioso observar nesta população que desde a implantação do Senevigrof, as palavras que mais passaram a usar, as mais repetidas por todas as tabuletas encontradas até o momento, era as palavras Lembramar e Esqueperdoar. As pesquisas mais recentes também têm encontrado que o elogio ou forma mais carinhosa dos moradores de Sor-ria se tratarem resumiam-se na seguinte expressão:
“Vejam, ali vai um lembr-amado. Pela face é possível dizer que é um esque-perdoado.”

Ao estudioso da cultura humana, não cabe em momento algum julgar a veracidade dos acontecimentos e das crenças, mas procurar entender o sentido que tais fatos assumiram na sociedade estudada. Como homens e mulheres que somos independentes de nossa formação, somos naturalmente levados a refletir o passado a partir das inquietudes do nosso presente, com o nosso olhar e com as nossas emoções. Assim, deixo aqui a minha função de historiadora e passo a refletir sobre a última das tabuletas da antiga So-Air encontradas no arquivo da alma:

Esquecer e Lembrar
Perdoa e Amar

Dois pares, quatro palavras, diversas combinações. Falar em uma é evocar a outra, misturá-las é entender a validade de cada uma delas para qualquer relacionamento.

ESQUEPERDOAR
LEMBRAMAR
ESQUEAMAR
LEMBRAPERDOAR
PERDOAR
ESQUECER
E
AMAR.

Esta era a mensagem dos deuses Raodrep e Receuqse. A mensagem que revelava suas próprias identidades. Os moradores de So-Air entenderam, ainda que depois de algum tempo nos quais vagaram por tantos templos, que a maldição que lhes repousavam provinham de uma única fonte: a dureza de espírito. Foi preciso uma caixa misteriosa para despertar-lhes a curiosidade e o desejo de mudança e então Lembra-amar. O perdão é sempre assim, necessita ser despertado por aquele que em essência e em pessoa é o AMOR e o PERDÃO: Deus, o pai “louco de amor”, o Espírito Santo “a melodiosa voz” e o Filho, a personificação e encarnação de PERDÃO, linguagem universal da reconciliação.
Os moradores de So-Air, agora Sor-Ria desvendaram o enigma. E você?


Karina Ribeiro Caldas